sábado, 1 de dezembro de 2012

Um cheirinho de mim...


Há alturas da vida que certos pormenores nos fazem pensar... Estava a ver a final do Top Chef na RTP e veio-me a ideia, como é fantástico termos uma imagem de marca. Eu sou Transmontano, com muito orgulho, mas cresci e vivi a minha vida quase toda junto ao Mar. Hoje o Mar corre-me nas veias, mas ao mesmo tempo o fumo sai me dos poros com a respiração... sinto em cada gesto a ruralidade das minhas descendências, molhada com o sal que o Mar me quis banhar!Eu sou um todo complexo, como qualquer um de nós, mas tão simples de compreender...

Do Mar quero trazer a força, a beleza e a imprevisibilidade. Aprender que depois de uma onda pode ou não vir uma calma... mas com força... nunca podemos perder a vontade de respirar. O Mar trouxe-me uma nova paixão... não de sempre mas para sempre, com a qual quero envelhecer e pela qual quero e irei lutar para que quando eu já cá não estiver, quem cá ficar possa conhecer o que eu aprendi a amar...

Por outro lado tenho a Terra, a Terra que me viu nascer, que é tão dura, tão ingrata, mas ao mesmo tempo tão sincera... a brutalidade dos relevos que sobem e descem por quilómetros fora, mas que em cada descanso nos mostram o que de mais belo a natureza têm. O fumo que eu tanto adoro e que me traz os enchido e a geada que marca a erva da carne que eu tanto respiro por comer. Mesmo tendo vivido tão distante, tudo isto é tão presente em mim. Sou bruto, sou frio, sou belo no que de mais puro existe mas também sou inconstante, com altos e baixos, que dentro dos seus limites, tornam-me mais Eu...

É lindo como eu me sinto original e modificado... Original no sentimento de ser Terra, de ser sangue, de ser cultura e gente... até na forma que escrevo, quem me conhece sente que sou eu... por sempre achar que quero ser diferente, não melhor, mas diferente... mas ao mesmo tempo ser tão modificado ao ponto de ter feito um esforço para tentar entender o infinito... tentar ver o fim do que não têm fim... e... encontrar a paz no “meu” azul que tantas alegrias me dá...

Este texto começou, na minha cabeça por ser uma reflexão gastronómica e acabou por ser uma autobiografia intelectual e sentimental e não vivencial. Um desabafo de quem idealizou um texto sobre o prazer da comida e acabou no prazer da cultura, das gentes... mas o que é a culinária senão tudo isso colocado ao dispor do paladar...

M...

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